Translatio Publica

Ensinar e Aprender Idade Média




Dando continuidade à sua série de publicações, o Translatio Studii apresenta neste livro o resultado das reflexões sobre ensino e aprendizagem na Idade Média e temas conexos. Trata-se de um esforço do grupo para divulgar o trabalho dos medievalistas e dos pesquisadores em formação para o grande público, procurando reduzir as barreiras entre a produção universitária e a sociedade.
O tema central do livro não foi amarra inquebrantável, o que permitiu a apresentação de uma grande variedade de assuntos em diferentes latitudes e temporalidades. Esta publicação, portanto, mostra justamente o que o Translatio Studii vem tentando fomentar desde sua formação: o diálogo acadêmico franco e democrático e, sobretudo, o fortalecimento e divulgação da área de História Medieval no Brasil. Assim, esperamos que esta publicação contribua com o enriquecimento dos estudos medievais brasileiros.

Os Organizadores

ISBN 978-65-00-32463-1




Expressões do Estado no Medievo



Dando continuidade à sua série de publicações, o Translatio Studii apresenta neste livro o resultado de reflexões que foram desenvolvidas sobre o Estado na Idade Média e temas correlatos. Trata-se de um esforço do grupo de divulgar para o público mais amplo possível os frutos de pesquisas originais em vários graus de desenvolvimento, algo que demonstra o vigor do campo dos estudos medievais no Brasil - consideração bastante relevante tendo em vista os diversos ataques que a História Medieval sofreu nos últimos anos.
Chama atenção a enorme variedade de contextos espaciais trabalhados, que vão desde o Mediterrâneo Oriental até a outra ponta do Atlântico com as possíveis implicações no processo de colonização da América. Os marcos cronológicos também são múltiplos, indo desde os primeiros séculos medievais até as balizas clássicas da Era Moderna. 
Desta maneira, o leitor tem em mãos quinze textos que o permitirão ter um panorama amplo das manifestações estatais no medievo. São consideradas as expressões ideais do poder, as possibilidades de ação régia, bem como o papel das alianças matrimoniais. Além disso, as ordens mendicantes e as relações de sexualidade também figuram entre os materiais aqui trazidos nas páginas que se seguem

Os Organizadores

ISBN 978-65-00-3246



 A ‘Nova’ Ordem de Avis e a distorção do passado 

Thiago Magela

A extrema-direita portuguesa volta-se ao passado medieval para encontrar as suas referências de horizonte político. Uma mistificação da História que transforma o medievo luso em “branco” e os “imigrantes” em invasores. Os novos “monges guerreiros” até mesmo pedem, sem qualquer constrangimento, que as minorias sejam deportadas, afinal, para eles a Europa é branca em essência.

Nenhuma surpresa, pois a Idade Média tem sido um celeiro profícuo para as extremas-direitas ao redor do globo. Cada grupo elege e fatia o passado de acordo com seus interesses em questão. No caso português, a iniciativa do grupo neonazista de designar-se “Nova Ordem de Avis” remete a uma idealização da ordem militar como uma verdadeira criação “nacional”, erguida pelas mãos do próprio “fundador da nação”, D. Afonso Henriques.

Como se sabe, as ordens militares surgiram como resposta às tensões latentes na sociedade feudal do século XII. Alguns historiadores, inclusive, atribuem-lhes apenas o papel de defesa dos peregrinos à “Terra Santa”. Contudo, essas ordens se tornaram cada vez mais belicosas ao longo do século seguinte. São Bernardo, por exemplo, justificava e exaltava aqueles que combatiam o “diabo” (leia-se, os muçulmanos) com as armas espirituais e terrenas.

Enquanto o infiel seria o “inimigo” no contexto medieval, a “Nova Ordem de Avis” projeta a condição de inimigos e invasores nos “negros”, “ciganos” e “imigrantes” que habitam o atual Portugal. Uma importância desmedida é dada à Ordem de Avis, muito embora os registros históricos que nos permitem conhecê-la sejam inconclusivos sobre a data de sua fundação e até mesmo sobre a sua efetiva ligação com Afonso Henriques. Diante dessas questões, o terreno nacionalista se encolhe, pois se esforça em ignorar que, inclusive, a ordem militar de Calatrava (sediada no reino de Castela) teve certa autoridade e jurisdição sobre as ações dos cavaleiros de Évora. No entanto, a tal conexão entre ordens militares peninsulares através da ótica do partido de extrema-direita Chega! deve ser visto como positiva tendo em vista a concepção essencialista de Europa de valores eternos.

O surgimento dos novos “monges guerreiros” semeou a dúvida no fecundo terreno do mito de um Portugal sem racismo e tolerante com os imigrantes, propagado através de gerações sob a égide do “bom colonizador” e da sua missão civilizacional. O partido “Chega!”, em seu manifesto, se apresenta como o garantidor e defensor da História, da Cultura e até mesmo da Língua Portuguesa, pretendendo negar ou obscurecer o amálgama de etnias e culturas diversas que constituíram não só Portugal, mas toda a Península Ibérica e desde os primórdios da presença humana na região.

O que a extrema-direita portuguesa deseja é exatamente reescrever e homogeneizar a Idade Média lusa nos moldes de seu projeto branco, elitista e excludente. Mas essa homogeneidade só existe na cabeça daqueles que pouco ou nada sentem além de um ódio por um “outro” que na verdade se confundem com eles próprios. Ademais, esse tipo de abuso deforma tanto a compreensão do presente quanto a do passado, ao silenciar vozes dissonantes como a do abade cisterciense Isaac de l’Étoile que, no século XII, condenava aqueles que espoliavam e massacravam em nome de Cristo os que não professavam a sua fé. Mas essa herança católica não interessa ao “Chega!”.

Seja como for, a promoção dessa tabula rasa do passado – para além de indicar que a Idade Média, como “figura de linguagem”, está sendo utilizada por agentes populistas – nos alerta para o compromisso social dos medievalistas com as demandas do ontem mas, sobretudo, com as do hoje, que não pode ser ignorado. Por essa razão, possivelmente seja a hora de revisitar a Idade Média e resgatar as vozes “derrotadas” que se opuseram aos status quo e à suposta legitimidade de certas ações.

Torna-se impreterível, neste momento, reler a Idade Média e desconstruir o mito da sua “branquitude”, da Europa Eterna, do eurocentrismo e do “bom colonizador”. As lutas do presente devem assumir a luta pela História. Pois, como disse Walter Benjamin, “o dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer.”




Translatio Studii: Problematizando a Idade Média


É com enorme satisfação que anunciamos a publicação de mais um livro organizado pelo Translatio Studii - UFF. Resultado do encontro homônimo realizado em 2012, a obra coletiva "Translatio Studii: Problematizando a Idade Média", foi lançada pelo PPGH/UFF Publicações, na coleção História Online e está disponível em:


http://www.historia.uff.br/stricto/files/public_ppgh/hol_2014_translatioStudii.pdf


Boa Leitura!


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